sábado, 6 de setembro de 2014

Escritos

Badilisha*

 Num dia comum como todos os outros, o sol nasceu, o despertador tocou, a vontade de ficar na cama aumentou, a preguiça proliferou e a manhã começou. 
Há dias que se tornam diferentes e que marcam a diferença, e numa vida que é constituída por um número incálculavel de dias, são poucos os que surpreendem. 
No entanto, não é surpresa nenhuma que alguns dias supreendem e não podemos deixar de nos sentir tocados por esses momentos. 

Tal como era normal todos os dias, o despertador marcava o dia e a hora presente: 18 de Setembro de 2009 e, por alguma razão, o despertador parecia conhecer o dia. Não fazia olhares, não amuava, não fazia comentários. Apenas parecia conhecer o dia e fazia-o da sua forma: não se calava e esperava que o seu dono acordasse. 

Era uma altura importante para Miguel Paixão. Ia mudar de escola e neste ano decidia-se o seu rumo, o seu futuro, o seu "destino".
Com a mudança de escola vinham muitas alterações: hábitos, estilo de vida, relações, ambições, motivações, locais, pessoas, conhecimentos, cultura, entre muitas outras. 
Mudar-se-ia para Coimbra (vindo diretamente de Évora) e seguiria o curso de Economia na Faculdade de Economia na Universidade do Coimbra (com uma média surpreendente de 17,12). Tudo nesta mudança o entusiasmava - o início de uma aventura, a procura de novos amigos, a abertura de novos mundos, a descoberta de novos locais e novas culturas - e pouco o fazia temer a mudança. 
Embora pouco assustasse Miguel, eram exatamente estes receios que o faziam pensar realmente na mudança que iria fazer. Tudo isto implicava: arranjar a coragem para tomar uma atitude como mudar de cidade, tornar-se independente e talvez solitário, conhecer novas pessoas e sair da sua zona de conforto. 
Faculdade de Economia - Universidade de Coimbra
Ele sabia que em toda a mudança vem algum risco: não haver uma adaptação, a adaptação ser inadequada, a mudança ser demasiado radical e não era isto que o ia fazer desistir. Até porque sabia que sempre tinha desejado isto -  formar-se, "ser alguém" (como o seu pai costumava dizer), aumentar o seu conhecimento, arranjar uma nova zona de conforto. Afinal, se Miguel acreditava que é a enfrentar os medos que surgem os corajosos, nunca poderia desistir do seu sonho.
Impressionantemente (ou até não), foi a existência destes receios que também fizeram com que Miguel arranjasse mais motivação e mais força para seguir com esta decisão. No fim de contas, algum dia tinha de se tornar independente. E, se acreditava nas suas capacidades, esta era a melhor forma de melhorar, de se cultivar, de se conhecer. 

*mudança (suaíli)

Raúl Amarantes.