quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A precariedade da vida

Nota: Toda a semelhança que poderá haver com a realidade é simplesmente coincidência.

Dia 6 de Junho de 2010

- Bom dia, Matilde. -cumprimentou Rafael com um beijo na bochecha direita- Dormiste bem princesa? 
 Ainda com sono, e a espreguiçar-se, Matilde respondeu:
- Sabes que não gosto muito que me chames princesa... Faz-me sentir vulgar, comum...
- Em nada, tu és comum Maggie. 
 Logo de seguida, Margarida deu-lhe um beijo apaixonado.
-  Obrigado, querido. Vamos tomar o pequeno-almoço?
- Claro. Se assim o desejar, princesa.  
 Dirigiram-se ambos para a cozinha, que tinha uma mesa que daria no máximo para 4 pessoas, feita com inox e um tampo de granito. Além disso, tinham um frigorífico da Teka, com 2 m de altura e 70 cm de largura. 
 Esta divisão tinha 5 m por 4. Era uma divisão avantajada para uma família como a de Rafael e Margarida, que recebiam, por vezes, alguns familiares e alguns amigos. 
- Que gostavas de comer? -perguntava Margarida- Torradas ou cereais? 
- Preferia comer torradas, por favor. Com queijo, se não te importas.
- Não é problema nenhum, querido. 
 Seguiu-se um curto silêncio, que foi interrompido por Rafael.
- Então, que vais fazer hoje, amor? 
- Deverei fazer o mesmo de sempre. Assinar papéis e mais papéis. Este trabalho cada vez se torna mais entediante. Sempre o mesmo processo. 
- O quê? Continuam com problemas com a outra empresa, a Alcides & filhos? 
- Sim, continuamos. Houve uma época em que tudo parecia que estava bem, mas afinal, eles decidiram fazer um recurso ao processo. Alegam que a nossa construção irá invadir o seu terreno. Enfim, nunca mais nos vemos safos deste processo, e cada vez mais a crise aperta. Esta construção poderia vir a ajudar à estabilização da empresa e um possível crescimento, mas com o rumo que isto está a levar, não sei se teremos hipóteses de sobreviver. 
 Após a longa explicação, houve um curto silêncio, que foi interrompido desta vez por Margarida.
- E então, como deve ser o teu dia de trabalho? 
 Neste momento, Margarida entregou a Rafael as torradas que tinha acabado de fazer, acompanhado do chá que o mesmo costumava tomar.
 - Oh, deve ser mais um dia de servir bebidas e snacks. Naquele bar nunca acontece nada de excitante. Além disso, por vezes, o chefe não aparece no trabalho. Ausenta-se por um dia, ou até dois e depois aparece lá, para se ausentar outra vez. -após tomar o chá sugeriu- Que tal vermos o que dá nas notícias? 
- É uma boa ideia. 
 Em letras garrafais, aparecia na Sic a notícia da demissão do José Sócrates do cargo de secretário-geral do PS que tinham discutido na noite anterior.
- Mais uma vez aparece a cara da crise... -comentava Rafael- Importas-te que mude de canal, Margarida?
- Não, querido. Se a cara dele te chateia, o melhor é mudar. Vê do que falam na TVI. 
 Assim procedeu Rafael.
 Na TVI aparecia uma reportagem sobre as marchas populares que estavam a acontecer em Lisboa desde dia 4 até dia 6 e a festa em si. 
- Um dia, gostava de ir ver estas festas ao vivo. -disse Margarida- Sempre ouvi dizer que estas festas têm muita vida e acho que no período de crise que vivemos, precisamos de sentir alguma alegria. 
- Iremos lá um dia Margarida, prometo-te. 
 De repente, ouviram um alarme que mais parecia um sussurro do vento. Foi quando se aperceberam das horas que eram.
- Deus do céu! Já são 8 e 5! Vou-me atrasar! -disse Rafael, despedindo-se logo de seguida de Margarida- Volto mais logo querida! Desculpa não ficar mais um pouco, mas tenho mesmo de ir. Amo-te muito, princesa! 
- Está bem. Adeus querido. Também te amo muito. -e despediu-se com um beijo. 
Margarida vestiu-se logo de seguida (ainda se encontrava no pijama com ursinhos que tanto gostava), com um vestido azul escuro que dava até ao joelho e calçou uns chinelos formais castanhos. Entrou no seu Nissan Micra e decidiu seguir até à empresa em que trabalhava onde teria uma surpresa...


As famosas marchas de São João
Raúl Amarantes.
Continua numa próxima vez...

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