domingo, 20 de março de 2011

Pequena pausa... De contos

Mente perversa

Mais uma vez se havia cruzado com uma miragem, com uma fotografia, com um quadro. Tinha-se cruzado com a sua imaginação, o seu interior e o seu desejo. Assim era ela descrita pois tal rapariga seria impossível de ser criada naturalmente, apenas a imaginação poderia criar tal ser perfeito...

Queria desmonta-la como um investigador, ver o que reinava naquele pedaço de formosura, naquele pedaço de céu, naquela imagem criada. Queria tocar naquele objecto tão sensível. Tocava com uma sensibilidade tal, que nem sequer tocava. Era como se de repente a agarrasse, (sem a agarrar), a despisse, e apreciasse apenas por uns breves momentos aquele pedaço de céu mesmo que para isso tivesse que abdicar da vida.
 "Tocava com uma sensibilidade tal, que nem sequer tocava."

Viver com tal ser já lhe parecia ser divino, então ser um dos seres (im)perfeitos da sua vida era como ter um lugar garantido naquele céu que tantos religiosos diziam ser a divina salvação. Para ele, ela seria a divina salvação. Ver a parte exterior desse ser era como que um sonho dos mais estranhos possíveis, pois a vista é das coisas mais banais possíveis.
Era-lhe impossível relacionar-se com ela, pois mesmo que ela fosse o tipo amigável, sorridente, querida e tudo o resto de bom, ele continuaria a ser o oposto esperado numa conversa. Seria diferente, seria um sonho e era tão simples...

Preferia resumir-se aos sonhos em que não tinha que falar e apenas pensar, coisa tão banal como ver...

Raúl Amarantes. 

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