domingo, 4 de janeiro de 2015

Escritos

Ahadi*

Então, nesse dia, 18 de Setembro, o Miguel fez o caminho que já tinha feito em direção à Faculdade. Para se habituar mais, decidiu conhecer o caminho e veio uns dias mais cedo.
A sua casa ficava na Avenida Bissaya Barreto e todos os dias passava ao pé do Instituto Português de Oncologia, descia um pouco mais a rua, passava ao pé do Café Scala, subia as escadas em direção à Universidade e continuava o caminho a subir até chegar à Faculdade de Economia. 
No caminho, não via muitas árvores, via mais carros e isso era algo a que não estava habituado em Évora. 
A viagem (a pé), normalmente durava 10 minutos e isto dava-lhe sempre a oportunidade de pensar no que esperar para o dia, pensar nos seus receios, nas suas expectativas e, quando se apercebia, já tinha chegado à Faculdade. Afinal, 10 minutos, quando temos muito em que pensar, ou quando os temas são sensíveis nem para fazer a introdução dão. 

Tinha um amigo que já estava na Faculdade e estava no seu 3.º ano de licenciatura. Chamava-se Artur Sinistro, e entrou em Coimbra como 2ª  opção, mas adorou tanto o espírito e reconheceu que a diferença não era muito significativa (pelo menos para ele), que acabou por deixar o seu gosto de ir para Lisboa, para trás. 
Como o Miguel era ansioso, chegou à faculdade 10 minutos antes do acordado, mesmo tendo o Artur avisado que lhe mostrava a Faculdade e para não se preocupar com atrasos. 
Ficou então à espera e entretanto foi tentando reconhecer mais alguém de Évora, tentando perceber se podia haver ali algum colega de curso. Também teve oportunidade de apreciar o edifício e conhecer o local no qual ia passar muito tempo. 

Coimbra
O Miguel lá acabou por encontrar o Artur e estes conversaram sobre Coimbra e sobre a mudança.
- Então, que tens achado? - perguntou Artur.
- Ainda não tive oportunidade de conhecer muito, por isso não posso dizer nada de mais. - respondeu Miguel enquanto mexia os ombros para mostrar que não sabia o que dizer.
- Mas vais ver que vais adorar! Tinha o mesmo pensamento que tu, achava que não ia ser nada de mais, que ia fazer os meus 3 anos e depois esquecia isto! Mas adorei! O pessoal é todo muito próximo, preocupa-se contigo, só quer o teu melhor, acredita! 
- Sim, não vou duvidar disso! Venho de mente aberta!
No entanto, não era assim tanto com o Miguel. Continuava com um ligeiro receio do que pudesse acontecer, mas estava disposto a dar uma oportunidade e reconhecia que este era um passo importante para a sua formação. 

No fim de contas, o que o preocupava eram as promessas que tinha feito, a mudança, e por isso não tinha expectativas muito altas. Afinal, era isso que reconhecia. As promessas que tinha feito, tinham de ser promessas que ia cumprir. Respeitava muito a palavra e quando prometia algo, queria seguir com isso até ao fim, mesmo que no processo reconhecesse que devia ter feito de outra forma.
Mas foi ensinado a nunca prometer algo que considerasse impossível. Tinha sempre de prometer algo exequível, e as promessas de longa duração eram o mais complicado.
Tinha prometido não mudar, mas a sua mudança começava com a cidade, com o seu grupo de amigos e reconhecia então que a mínima mudança iria ocorrer. Mas queria-se reconhecer ao fim da viagem. 
E para o Miguel isso era muito importante. Mas agora não era altura para falar nisso. As aulas dele começavam às 11 e entretanto o Artur foi-lhe mostrando como era a faculdade. 

Falaram de Évora, de como estava a secundária em que os dois andaram (a Escola Secundária André de Gouveia) e de como o tempo passava rápido (esse ser que consoante as épocas acelera ou abranda, irrita ou alegra, mas que nunca adquiria uma figura definitiva: uma figura conhecida e que possa ser combatida). Falaram também das expectativas de cada um e enquanto as do Miguel não eram muitas, as do Artur estavam elevadíssimas - afinal, no ano seguinte ia seguir no mestrado e tinha de decidir o que queria. 
No entanto, a conversa já ia longa e então Artur decidiu mostrar a escola. 

E seria neste ano que Miguel compreenderia a força de uma promessa e a dificuldade que é por vezes manter uma, mesmo que quando esta é feita, nada se oponha. 

*promessa (em suaíli)

Raúl Amarantes. 


(Nota: este é um trabalho puramente ficcional e qualquer semelhança com a realidade é meramente coincidência)

sábado, 6 de setembro de 2014

Escritos

Badilisha*

 Num dia comum como todos os outros, o sol nasceu, o despertador tocou, a vontade de ficar na cama aumentou, a preguiça proliferou e a manhã começou. 
Há dias que se tornam diferentes e que marcam a diferença, e numa vida que é constituída por um número incálculavel de dias, são poucos os que surpreendem. 
No entanto, não é surpresa nenhuma que alguns dias supreendem e não podemos deixar de nos sentir tocados por esses momentos. 

Tal como era normal todos os dias, o despertador marcava o dia e a hora presente: 18 de Setembro de 2009 e, por alguma razão, o despertador parecia conhecer o dia. Não fazia olhares, não amuava, não fazia comentários. Apenas parecia conhecer o dia e fazia-o da sua forma: não se calava e esperava que o seu dono acordasse. 

Era uma altura importante para Miguel Paixão. Ia mudar de escola e neste ano decidia-se o seu rumo, o seu futuro, o seu "destino".
Com a mudança de escola vinham muitas alterações: hábitos, estilo de vida, relações, ambições, motivações, locais, pessoas, conhecimentos, cultura, entre muitas outras. 
Mudar-se-ia para Coimbra (vindo diretamente de Évora) e seguiria o curso de Economia na Faculdade de Economia na Universidade do Coimbra (com uma média surpreendente de 17,12). Tudo nesta mudança o entusiasmava - o início de uma aventura, a procura de novos amigos, a abertura de novos mundos, a descoberta de novos locais e novas culturas - e pouco o fazia temer a mudança. 
Embora pouco assustasse Miguel, eram exatamente estes receios que o faziam pensar realmente na mudança que iria fazer. Tudo isto implicava: arranjar a coragem para tomar uma atitude como mudar de cidade, tornar-se independente e talvez solitário, conhecer novas pessoas e sair da sua zona de conforto. 
Faculdade de Economia - Universidade de Coimbra
Ele sabia que em toda a mudança vem algum risco: não haver uma adaptação, a adaptação ser inadequada, a mudança ser demasiado radical e não era isto que o ia fazer desistir. Até porque sabia que sempre tinha desejado isto -  formar-se, "ser alguém" (como o seu pai costumava dizer), aumentar o seu conhecimento, arranjar uma nova zona de conforto. Afinal, se Miguel acreditava que é a enfrentar os medos que surgem os corajosos, nunca poderia desistir do seu sonho.
Impressionantemente (ou até não), foi a existência destes receios que também fizeram com que Miguel arranjasse mais motivação e mais força para seguir com esta decisão. No fim de contas, algum dia tinha de se tornar independente. E, se acreditava nas suas capacidades, esta era a melhor forma de melhorar, de se cultivar, de se conhecer. 

*mudança (suaíli)

Raúl Amarantes. 



sábado, 25 de agosto de 2012

Colectânea de frases originais

Nota: Todas as reflexões, pensamentos, frases, textos publicadas aqui são originais.

Não faças para que as pessoas te reconheçam. Faz é para que te reconheças a ti próprio. Pois tu és tu, e quando perdes a tua identidade, nunca mais a encontras. Mesmo que procures uma vida inteira.

A perfeição é alcançada através da mentira e da ocultação. Por isso mesmo, quem se afirma perfeito, oculta a sua imperfeição.

As pessoas tendem a apaixonar-se mais pelo desconhecido do que pelo conhecido pois provoca menos desilusão. Mas apenas amam o que realmente conhecem, porque o que é conhecido como " a palma da mão", mais facilmente é perdoado.

A vida e o amor sempre foram excelentes inspirações. Infelizmente, alguns só têm uma delas. E outros, nem uma têm, resignando-se à morte.

A capacidade de ver o bom no mal é indispensável para a felicidade. Porque todos queremos viver alegres... E todos o tentamos ser de alguma forma...

Quem está realmente apaixonado, não consegue fingir. Cada ato que se realiza já tem uma pitada de paixão, e cada passo que se dá, já não é para trás... É um passo decidido em direcção ao correspondente... Por isso mesmo, nunca foi fácil fingir o amor... É instintivo.

Em alguns momentos da vida, temos que optar pela racionalidade em vez do coração. Mesmo que o coração tenha uma voz mais forte...

Às vezes, na procura da pessoa perfeita para nós, gastamos a nossa vida... Quando essa pessoa pode ter estado sempre connosco. "O ser-humano perfeito pode não se encontrar na outra ponta do mundo. Pode até ter passado a sua vida sempre connosco..."

Nunca deixes que um amor incondicional e perfeito ocupe a imagem da realidade... Afinal, nos contos de fadas onde o amor pelos dois protagonistas é perfeito envolve sempre um vilão. E o vilão pode ser a vida.

Tentei contar 2+2. Obti um resultado exacto. Tentei contar as estrelas. Perdi-me na imensidão de estrelas que havia naquele céu, livre de ser quem queria, brilhante e único. Tentei caracterizar um quadrado. 4 ângulos rectos, segmentos de recta com o mesmo comprimento. 
Mas, quando tentei escrever sobre ti e, falar contigo, revelou-se mais difícil que tudo o que fiz. Perdi-me na imensidão dos teus

 olhos, na incerteza da tua pessoa e nunca, mas nunca tu eras igual.
Como último exercício, tentei falar sobre o amor. Ocupava mais folhas que o meu caderno tinha, pois nunca obtia uma definição exacta. Nunca soube quem tu eras. Nem nunca soube o que era o que eu sentia por ti.
"Às vezes, até o mais simples, é o mais difícil..."

Porque o amor não pode ser caracterizado, explicado, resumido ou falado correctamente... E quando nos questionamos se amamos alguém por pensarmos constantemente nessa pessoa não temos que associar a amor... nem a perseguição. Temos que nesses momentos ouvir o coração... e não o cérebro.

Não queiras saber tudo. Afinal, se sabes tudo, nada te é estranho. E nada te provoca curiosidade...

Toda a gente quer ser quem verdadeiramente é. Mas, no entanto, não há ninguém que não repugne quem mostra a sua verdadeira faceta.

Há várias ideias de racional... Há várias ideias de sentimental... Há várias ideias de inteligente... Infelizmente... também há várias ideias do que é o amor...

Poderia escrever milhões de palavras, e no entanto, ficar ainda muito por dizer de ti. Poderia tirar milhares de fotos, e nunca me satisfazer com a tua imagem. Poderia recitar-te poemas que derretem até a chama mais intensa...
Oh... Poderia fazer tanta coisa, e no entanto, nunca a fiz...


A realidade, por vezes, magoa... É por isso que sabe bem imaginar em alguns momentos da vida...

A nossa imaginação é a única que poderá alimentar falsas esperanças... Mas de tão falsas que elas são, mais verdadeiras as tentamos tornar. 
Não queiras prender a tua imaginação. Sê livre, luta pelos teus sonhos e luta pelas utopias em que acreditas. Até o amor perfeito é uma utopia.


Raúl Amarantes
A arte de escrever
That's how we roll

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A precariedade da vida

Nota: Toda a semelhança que poderá haver com a realidade é simplesmente coincidência.

Dia 6 de Junho de 2010

- Bom dia, Matilde. -cumprimentou Rafael com um beijo na bochecha direita- Dormiste bem princesa? 
 Ainda com sono, e a espreguiçar-se, Matilde respondeu:
- Sabes que não gosto muito que me chames princesa... Faz-me sentir vulgar, comum...
- Em nada, tu és comum Maggie. 
 Logo de seguida, Margarida deu-lhe um beijo apaixonado.
-  Obrigado, querido. Vamos tomar o pequeno-almoço?
- Claro. Se assim o desejar, princesa.  
 Dirigiram-se ambos para a cozinha, que tinha uma mesa que daria no máximo para 4 pessoas, feita com inox e um tampo de granito. Além disso, tinham um frigorífico da Teka, com 2 m de altura e 70 cm de largura. 
 Esta divisão tinha 5 m por 4. Era uma divisão avantajada para uma família como a de Rafael e Margarida, que recebiam, por vezes, alguns familiares e alguns amigos. 
- Que gostavas de comer? -perguntava Margarida- Torradas ou cereais? 
- Preferia comer torradas, por favor. Com queijo, se não te importas.
- Não é problema nenhum, querido. 
 Seguiu-se um curto silêncio, que foi interrompido por Rafael.
- Então, que vais fazer hoje, amor? 
- Deverei fazer o mesmo de sempre. Assinar papéis e mais papéis. Este trabalho cada vez se torna mais entediante. Sempre o mesmo processo. 
- O quê? Continuam com problemas com a outra empresa, a Alcides & filhos? 
- Sim, continuamos. Houve uma época em que tudo parecia que estava bem, mas afinal, eles decidiram fazer um recurso ao processo. Alegam que a nossa construção irá invadir o seu terreno. Enfim, nunca mais nos vemos safos deste processo, e cada vez mais a crise aperta. Esta construção poderia vir a ajudar à estabilização da empresa e um possível crescimento, mas com o rumo que isto está a levar, não sei se teremos hipóteses de sobreviver. 
 Após a longa explicação, houve um curto silêncio, que foi interrompido desta vez por Margarida.
- E então, como deve ser o teu dia de trabalho? 
 Neste momento, Margarida entregou a Rafael as torradas que tinha acabado de fazer, acompanhado do chá que o mesmo costumava tomar.
 - Oh, deve ser mais um dia de servir bebidas e snacks. Naquele bar nunca acontece nada de excitante. Além disso, por vezes, o chefe não aparece no trabalho. Ausenta-se por um dia, ou até dois e depois aparece lá, para se ausentar outra vez. -após tomar o chá sugeriu- Que tal vermos o que dá nas notícias? 
- É uma boa ideia. 
 Em letras garrafais, aparecia na Sic a notícia da demissão do José Sócrates do cargo de secretário-geral do PS que tinham discutido na noite anterior.
- Mais uma vez aparece a cara da crise... -comentava Rafael- Importas-te que mude de canal, Margarida?
- Não, querido. Se a cara dele te chateia, o melhor é mudar. Vê do que falam na TVI. 
 Assim procedeu Rafael.
 Na TVI aparecia uma reportagem sobre as marchas populares que estavam a acontecer em Lisboa desde dia 4 até dia 6 e a festa em si. 
- Um dia, gostava de ir ver estas festas ao vivo. -disse Margarida- Sempre ouvi dizer que estas festas têm muita vida e acho que no período de crise que vivemos, precisamos de sentir alguma alegria. 
- Iremos lá um dia Margarida, prometo-te. 
 De repente, ouviram um alarme que mais parecia um sussurro do vento. Foi quando se aperceberam das horas que eram.
- Deus do céu! Já são 8 e 5! Vou-me atrasar! -disse Rafael, despedindo-se logo de seguida de Margarida- Volto mais logo querida! Desculpa não ficar mais um pouco, mas tenho mesmo de ir. Amo-te muito, princesa! 
- Está bem. Adeus querido. Também te amo muito. -e despediu-se com um beijo. 
Margarida vestiu-se logo de seguida (ainda se encontrava no pijama com ursinhos que tanto gostava), com um vestido azul escuro que dava até ao joelho e calçou uns chinelos formais castanhos. Entrou no seu Nissan Micra e decidiu seguir até à empresa em que trabalhava onde teria uma surpresa...


As famosas marchas de São João
Raúl Amarantes.
Continua numa próxima vez...

domingo, 29 de julho de 2012

A precariedade da vida

Domingo, 5 de Junho de 2011

 -Este maldito governo acabou finalmente! Já estava cansado de guerrilhas e de procuras de poder! -dizia o personagem- Veremos se o governo que vai entrar trará um crescimento para o país. Esta situação que estamos a sofrer era dispensável. Poderíamos ter resolvido isto há muito mais tempo! 
 -Na minha opinião, nada irá melhorar. Continuaremos num turbilhão de emoções, cada vez a contar mais as esmolas com que ficamos no final do mês. -respondeu o segundo personagem- Não penso que estaremos safos. 
 -Esta situação terá de melhorar. Não podemos continuar sempre nesta miséria! Estou cansado da vida que levamos. Quero cumprir os meus desejos de criança! Espero ter um Mini Cooper S brevemente! 
 - Calma querido. Infelizmente teremos de fazer cada vez mais sacrifícios. O dinheiro que ganhamos actualmente não dá para grandes luxos. 
 - Sim querida, mas o dinheiro que estamos a ganhar neste maldito país só nos dá a rotina do dia-a-dia. Estou cansado da monotonia! Estou cansado de não puder pagar-te um jantar a dois! Estou cansado desta maldita vida! 
   A segunda personagem manteve-se inquieta, sem nunca responder, enquanto pensava numa resposta para dar. Não disse nada, e assim ficou o ambiente. Logo a seguir, já sentados no sofá azul pálido começaram a ver a demissão de José Sócrates do cargo de Secretário-Geral do PS, logo após as eleições, na televisão que tinha escrito Sony Bravia. 
   Eles encontravam-se numa divisão que tinha uma cor assemelhada ao bege, uma mesa em que eles raramente jantavam e uma dimensão de 7 metros por 4. Além disso, esta divisão tinha uma decoração clássica com umas cadeiras pretas bastante confortáveis, um espelho bastante comprido que tinha quase a largura da sala e uma altura de 70 cm. 
 - Por fim, este homem saiu do governo! Já estava cansado de "Freeports", de "Faces Ocultas" e de "Alquevas"! Este tipo apenas queria um poleiro de forma a ganhar algum dinheiro! Ainda bem que deixou de ser político! -argumentou o primeiro sujeito- Concordas, não concordas Matilde? 
 - Eu até que o acho inteligente. -respondeu Matilde.
 - Mas deu-te alguma coisa que tenha afectado o teu juízo?! Esse homem é a personificação da ganância, do roubo, da burrice e da própria crise! Esse ser é a causa de toda a pobreza que muita gente sofre! Se tivesse pedido ajuda muito mais cedo, não estaríamos a sofrer tanto! Ele apenas se preocupou com o seu próprio bem-estar e o dos outros apenas lhe importou quando o voto desses é que contava! 
 - Rafael, tens de ter calma. Essa tua angústia é igual à angústia de muita pobre gente neste país. Eu percebo que te sintas zangado. No entanto, tens de admitir que este homem é muito inteligente. Foi muitas vezes questionado em relação aos casos em que esteve envolvido e nunca se avançou nada. Pessoalmente, até acho que ele foi mal-entendido. Que resultado achas que a vinda do FMI terá para este país? Achas mesmo que tudo irá ficar resolvido miraculosamente? Esta ajuda que o FMI vem dar ao país, torna-se uma ajuda para eles mesmos. 
 - Mas Matilde, não havia outra possibilidade que não fosse pedir ajudar externa! O dinheiro foi todo gasto em mesquinhices! O dinheiro de uma população foi gasto num pequeno grupo! Achas isso correto?! O dinheiro teria de aparecer! Por essa mesma razão tivemos de pedir, para compensar o gasto desnecessário com esse pequeno grupo! Cansei-me de toda a estupidez manifestada pelo grupo político que controla o nosso país! Um governo deverá controlar a vida em sociedade balançando a vida de cada um com a vida que toda essa gente tem em convívio! O problema foi que esse dinheiro que supostamente era para uma população de 10 milhões reverteu para um grupo de "carapaus de corrida" que se encontravam no poder. 
 - Rafael, entendo o que tu estás a dizer, mas não podes responsabilizar um homem pelo enriquecimento de alguns "carapaus de corrida". 
 - E então, quem irás responsabilizar? Alguém foi o culpado disto. 
 - Eu não sei. Apenas te digo que este homem é bastante inteligente e que foi mal entendido. A única coisa que eu sei é que nós e muitas outras pessoas somos as vítimas disto. O único papel que temos nesta história é de fazer cada vez mais sacrifícios e arcar com as consequências dos actos de muitas outras pessoas. 
   Logo após Matilde ter acabado de falar, Rafael deu-lhe um beijo na testa e disse-lhe:
 - Apesar da dificuldade económica que possamos sentir, nunca deveremos sentir uma dificuldade sentimental nesta mesma época. Felizmente, o amor não tem preço. Quem ama, ama apenas pelo prazer de poder amar. Eu amo-te e espero poder dizer-to muitas mais vezes na vida. Deixemos a política para quem entende e façamos o que entendemos. -deu um beijo a Matilde e disse- Vá, já se faz tarde. Vamos dormir e amanhã falamos melhor. 
   Matilde concordou e foram para a cama, logo após lavarem os dentes e a cara. 
   A cama era muito confortável, com uns lençóis feitos de linho e algodão. As almofadas eram preenchidas com penas e por isso, mal se deitaram, entraram num mundo de sonhos, em que tudo podiam alcançar.
   Rafael sonhava conduzir o seu querido Mini Cooper S, acompanhado de Matilde, no seu país de eleição, a Suíça, enquanto apreciava a beleza natural, sem se preocupar com nada. No entanto, a meio da noite, acordou sobressaltado. Tinha sentido um toque e por isso, abriu logo de imediato os olhos. 
 - Ãhn? Diz Matilde.
 - Rafael, não consigo dormir. 
 - Então e porquê Matilde?
 - Não sei... Acho que me preocupo com o nosso futuro. Afinal de contas, todos estes problemas que sofremos vão-se reflectir na nossa vida. Toda a nossa rotina já se tornou monótona. Agora que sabemos que vamos ter de fazer mais sacrifícios, que interesse terá a nossa vida? Onde encontraremos a nossa felicidade? Afinal, vamos sofrer cada vez mais o aperto do cinto. Temo muito o nosso futuro... 
 - Tem calma Matilde. Conseguimos sobreviver até agora e conseguiremos sobreviver. Agora descansa, porque amanhã terás de acordar cedo. 
 - Hoje. -disse Matilde entre risos- Obrigado por me reconfortares. Até mais logo. -e despediu-se com um beijo.

Raúl Amarantes.

Para Continuar...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Simplesmente escrita

Não é fácil escrever. A escrita é uma abertura ao mundo, uma demonstração de sentimentos, como quando se mostra um produto. Apresentam-se os defeitos, as qualidades, as ambições... e os fins desses mesmos produtos. Além disso, escrever também é difícil porque se tende a tentar saber bastante sobre um mesmo assunto. E quando não se sabe sobre um assunto, inventa-se. Formulam-se histórias de vida, histórias de amor, tragédia, miséria e até tristeza. Criam-se novas personagens com tais retoques, que nos parecem inclusive reais... Algumas delas parece que são as que falam connosco, que nos entendem. São as que nos podem afastar do mundo tão imperfeito em que vivemos. Não magoam, não exploram, nem nos atacam. Apenas se resignam à sua forma de ser, sem nunca interferir na nossa forma de estar. 
 No entanto, às vezes, envolve-mo-nos tanto numa história que ela os parece um retrato do que já possamos ter sofrido, e vemos refletido em meras páginas, meras palavras, simples vocábulos, a nossa história, a nossa vida, a  nossa personalidade. Vemos refletido o que sempre queríamos ser, tudo o que desejamos ser, tudo o que já fomos, e no entanto, até podemos ver nada. 






 Afinal, é isso que gostamos tanto na escrita. É um retrato de quem nunca fomos, de quem nunca podemos vir a ser. Aí se encaixa a escrita. Um mundo imaginário, onde não há limites. Onde o nosso próprio desejo é o que impera. Mas até o mais perfeito escritor tem de tornar o imaginado mais real... Porque, só assim, as pessoas sentem-se atingidas. 

Raúl Amarantes.


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Desculpe, mas não entendi o que disse...

A Continuação

Muitas vezes na vida, tem de se continuar. O que é o acto de continuar? O acto de continuar é o acto de avançar para além de algum fim que nos tenha aparecido. Ou seja, muitas vezes na vida encontramos obstáculos. E é o acto de continuar que nos torna mais fortes. Já iremos comprovar isso. 

O título "A Continuação" poderá induzir que este será um texto que irá continuar um anterior texto, mas isso será induzir em erro. Vou falar do avanço para além de uma paragem que fizemos.

Todos definimos um caminho (se não definimos, andamos confusos), ou seja, uma forma de chegar a algum lado.

E na vida, é o nosso acto de continuar que nos permite definir. Ou continuamos, ou paramos. O que significa que paramos a nossa caminhada em direcção a algo, que supostamente foi o nosso desejo a longo prazo. É o nosso acto de continuar que nos difere dos fracos. É a capacidade de dar por acabado coisas ou acontecimentos do passado. Mas claro, a simples ideia de esquecer tudo o que nos agrada, ou que não nos convém, pode induzir para que (por fraqueza), nunca mais queiramos recordar algo que nos tenha acontecido. 

Ficamos em: para continuar,temos de pretender que os acontecimentos não aconteceram, mas não os esquecer permanentemente. Passar apenas uma barreira. Fingir que esses acontecimentos nunca nos afectaram. Mas para continuar, temos de aprender as lições que esses mesmos acontecimentos nos têm a dar.

"(...) não nos podemos prender ao passado, ansiar que algo fosse diferente do que já foi."

E isto, nem falando dos acontecimentos que nos convém. Só que há uma contrapartida. Os bons acontecimentos são apoios, enquanto os maus, tendo a possibilidade de serem também apoios, serem barreiras que nos impedem de alcançar certo fim. 

Para que é tão importante ter a capacidade de continuar? 

Afinal, não nos podemos prender ao passado, ansiar que algo fosse diferente do que já foi. Pedir, desesperar, implorar, humilhar-se. Não se pode. As coisas já aconteceram, e o acto de recuar no tempo, não  é um acto que conste da possibilidade humana. E apenas nos podemos sujeitar ao desenrolar dos acontecimentos. Tornamo-nos num boneco humano, já que temos a possibilidade de optar entre chorar ou viver.

Nietzsche comprova isto, quando diz: " (...) o que não me mata, torna-me mais forte.". Um outro ser (o qual não se sabe o nome) também diz: "Forte não é aquele que não cai, e sim aquele que tem a capacidade de se levantar.".

Não há que se iludir com desejos, com pedidos, com derrotas. Em tudo na vida, há uma vitória e uma derrota. Nós apenas caminhamos para a que mais quisermos. 

"Não é digno de saborear o mel, aquele que se afasta da colmeia com medo das picadelas das abelhas" - William Shakespeare